domingo, 27 de junho de 2010

O que somos? (2º lugar - SMC/VR - 2000)

Você é...
Meu fora do sério, meu riso notório
Meu cair da tarde, minha madrugada
Meu retrato velho, minha chama que arde
Meu suado espólio, minha alma cansada.

Eu sou...
Sua amiga ouvinte, seu ombro disponível
Seu beijo mais quente, sua face dura
Sua afronta e acinte, sua mão tão rente
Seu nervo sensível, sua boca madura.

Nós somos...
Nossas muitas horas, nossos desvarios
Nossos sonhos loucos, nossos descaminhos
Nossas próprias escoras, nossos gritos roucos
Nossos mares bravios, nossos redemoinhos...

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Summer Dream

I opened my draw, in a shining morning
And your face I saw, like a bright sun...
When you looked me, with your lips smiling
Oh, so cruel doubt: kiss you or run?

I didn't know your words, I didn't know your voice
But I wanted your body near of my hands
So, a great light and a lover's noise
And we went, together, to distant lands...

domingo, 6 de junho de 2010

Doce saudade (2º lugar - SME/VR - 2002)

Quem disse que a saudade é doce, não conhece o gosto
Salgado das lágrimas que pelo rosto correm, solitárias
Amargo das decepções que enchem a mente, várias
Acre das dores que vão no peito. Párias
São aqueles que tomam por mel este azedume
Que tira o lume dos olhares, que separa os pares,
Que escurece as cores, que adormece os amores...

Quem disse que a saudade é doce, enganou-se!
Ela dói, feito uma ferida aberta, não tem cura
Ela destrói, feito o tempo, vagaroso, na clausura
Ela corrói, feito ácido na pele, e desfigura
O sorriso que dançava no semblante
O corpo do amante, que vibrava
O sonho que, adiante, vislumbrava
A tal felicidade, a todo instante...

Quem disse que a saudade é doce, beba
Do seu próprio veneno uma taça! Só assim
Verá como o mundo torna-se pequeno
E como a vida, sem o outro, perde a graça...

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Revelação (Soneto Alexandrino II)

No começo era vinho, doce e quente:
Embalar meu amor no seu sorriso,
Beber, gota a gota, o mel ardente,
Perder completamente o juízo...

O tempo foi passando, e o que era doce
Se revelou amargo, mero fel.
A dor me perseguia aonde eu fosse,
Rasgando o coração, frágil papel...

Rôta, cambaleei pelo caminho,
Ainda tonta com a verdade dura
Plantada em minha vida como espinho!

Mas, revelar-me a sua face escura,
Me deu a chance de fazer meu ninho
Noutro lugar, de afeição mais pura...