sábado, 29 de maio de 2010

A Pena e o Nanquim - Um soneto alexandrino (2º lugar - SMC/VR / Menção Honrosa em Amora - Portugal)

Mergulho em tua alma, doce tinta escura,
E, com um nanquim de rica essência, te traço.
Na imagem, veo a cor que à tela se mistura:
Da tinta, imortal retrato teu eu faço.

Imito a pena, fina e ágil companheira,
Que desenha a face do objeto de desejo,
Escreve em poesia a afeição primeira,
Registra a emoção daquele último beijo...

Unidos pela arte, a pena e o nanquim
Deixam marcada no papel tua lembrança,
Pedaço de um amor que julgo não ter fim.

Guardo junto a ti, na moldura, a esperança
De um dia o teu sorriso abrir-se para mim
E me embalar, então, nessa ilusão tão mansa!...

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Meia-noite

É quase meia-noite... E tudo o que desejo é o seu abraço
É me perder nesse espaço tão macio que, sem dúvida, era meu
É buscar pelo seu beijo e preencher o meu vazio, sem medo de ser feliz
É provar o mel que eu tanto quis, e no seu mundo mergulhar...

É meia-noite... E sinto sua pele na ponta dos meus dedos
Me livro dos segredos, ouço os seus temores, fico tonta
Me deixo levar pelas lembranças dos amigos, dos amores, dos momentos
Me abandono nesse turbilhão de sentimentos, hoje raros e antigos...

É mais de meia-noite... E o sono vem se encontrar no meu cansaço
Eu durmo em paz, sabendo que o laço foi refeito
Eu sei o quão perfeito é estar, agora, do seu lado
Eu aguardo. Quem faz a hora certa é o coração...

terça-feira, 25 de maio de 2010

Amigo

Amigo é coisa pra levar nos olhos, pra sonhar comigo, pra falar de vida nossa...
Amigo é coisa pra dizer saudade, pra sentir a ida, pra servir de abrigo...
Amigo é coisa pra sair da fossa, pra ouvir "Te ligo!", pra não ter idade...
Amigo é coisa pra buscar bem longe, pra hora dolorida, pra brigar (e por quem eu brigo)...
Amigo é coisa pra contar o amor, pra trazer a sorte, pra caminhar (e eu sigo)...
Amigo é coisa pra sul e pra norte, pra afirmar "Estou contigo!", pra chorar a dor...
Amigo é coisa pra se guardar no peito,
Pra me lembrar quando deito,
Pra saber o que de mim é feito,
Pra gostar de todo e qualquer jeito...

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Morte

Grito, mas já não escutas minha voz...
Não existe mais "nós", e assim vais:
Sem "ais", sem "byes", e fico eu - sem paz...

Peço, mas já não sentes minha dor...
Não existe mais amor, e assim somes:
Sem nomes, sem que, outra vez, me acaricies e me domes...

Choro, mas já não notas meu assombro...
Não existe mais ombro, e assim caminhas:
Sem o que tinhas, sem poder ver as lágrimas minhas...

Morro, mas já não percebes minha ida...
Não existe mais vida, e assim voas:
Sem que em mim doas, sem que eu esqueça tantas coisas boas!...

domingo, 23 de maio de 2010

Cuida da poesia

Cuida da poesia. Na infância
Ser criança é ser cantiga, verso, rima ou prosa.
Estudiosa ou não, criança é talentosa!
Diz, na palavra escrita, a vida: a dor e o riso,
O vinho e o pão, a bola e a boneca, o céu e o chão...
Cuida da poesia. Na escola
A criança passa pro papel sua verdade
E é de responsabilidade de quem lê e corrige
Descortinar o dom, descobrir o artista novo!
Aquele que exige e que ensina a ler
Faz florescer a voz do povo no caderno do menino e da menina...
Cuida da poesia. Não esqueça
Que a frase é bênção, é desabafo em toda a idade.
Fazer poesia é deixar o coração falar, e pela mão
Registrar felicidade e mágoa no branco de uma folha
Pingar, letra por letra, feito bolha de sabão, formando a história
De um mundo mais poeta,
mais sensível, mais irmão.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Seu Legado (2º lugar - SESC/BM - 1997)

Sua língua afiada é que me corta
Seu olhar tão gelado é que me espreita
Sua boca maldita é que me nota
Sua mão caçadora é que me deita
No seu colo é que eu durmo a noite inteira
Na sua pele é que eu suo e me sacio
No seu pêlo é que eu vago, feito em rio
No seu braço é que eu faço minha esteira
Minha voz só responde ao seu chamado
Minha fé só acredita em sua crença
Minha cura só espera a sua doença
Meu poema só resume o seu legado
Nesta casa vive a dor que me consome
Neste verso canta o dom da poesia
Nesta vida vai-se embora a alegria
Nesta estrada foge o vulto do meu homem...

domingo, 9 de maio de 2010

Mãe

Dedicação, do modo mais profundo,
A quem trouxe ao mundo, com sublime amor...
Inspiração para toda a poesia
Luz do meu dia, bálsamo na dor...
Vida de espinhos, rosas e esperança
A cuidar da criança, mesmo quando mulher...

Abraçando-a hoje, sentimentos emersos
Mostro neste "De versos", de tão bons momentos...
Orgulho-me de sua raiz em meu coração
Rogo a Deus pelo seu caminhar, tão feliz...

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Jogo Feito

Pra que apostar tão alto nesse sonho?
O risco existe, não há como fugir ou evitar.
Desilusões, decepções, vão estar sempre presentes
Mas a vontade de ganhar supera a dor.
O medo grita, o "Não!" irrita, o sangue ferve, quente...
Não há prudência nem decência. No amor
O jogo é de azar.
Se sua sorte durou mais do que esperava
A qualquer hora brilha a estrela de outro alguém, noutro lugar.
A decisão fica pendente entre dois lados:
Ou jogo limpo, sou honesta, vou à luta com meus meios
Ou sopro areia, conto as cartas, marco os dados viciados.
Pra ganhá-lo não tenho regras, não passo a vez...
Como cigana, esqueço as leis, junto meus ases,
Roubo você da vida, depois com ela faço as pazes
E comemoro a vitória criminosa e garantida!...