domingo, 14 de novembro de 2010

Cinco sentidos

A minha pele se ressente da ausência do seu toque,
Do roçar dos dedos que a provoque e atormente...
Pede pelo seu calor, para aquecê-la em noite fria
Quer a carícia que arrepia antes do ato de amor...

O meu olhar se nega a perceber outro sorriso
Que não seja o seu - tão claro e tão preciso que me cega...
Busca por sua luz para iluminar o meu semblante
Quer o instante em que o brilho dos seus olhos me seduz...

A minha boca se esquece de qualquer que seja o gosto
Que não o do seu rosto, dos seus lábios. Numa prece,
Roga por saciar a fome desesperadora que a invade
Quer que nunca seja tarde para aplacar essa sede de você, que me consome...

O meu olfato se resume a perceber seu cheiro doce
Mesmo que fosse a última vez em que sentisse seu perfume...
Indica o caminho para que eu siga seus passos
Quer seus abraços, que me envolva em seu carinho...

Os meus ouvidos se confundem com o som da sua voz:
Ora a sós, ora nós... Você enlouquece meus sentidos!
Clamo por uma palavra sua, que leve a solidão embora do meu peito
Quero o final feliz, perfeito - estar ao lado de quem amo...

sábado, 6 de novembro de 2010

Tudo

Tudo o que eu canto
É o começo e o final da história
É a esperança jogada e o pranto
É a batalha e o sabor da vitória!

Tudo o que eu falo
Eu só falo porque tenho medo
Eu só falo porque é segredo
Eu só falo porque não me calo.

Tudo o que eu digo
Tem a fé de um pobre coitado
Tem a fúria de um grande inimigo
Tem a dor de quem é mal amado...

Tudo o que eu escrevo
Vem com a força da fonte que brota
Vem com a sorte plantada no trevo
Vem com o som de uma última nota...

Tudo o que eu canto, espanto
Tudo o que eu falo, estalo
Tudo o que eu digo, ligo
Tudo o que eu escrevo, fervo...

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Sem escrever

Sem escrever
Fica a pergunta sem resposta, o adeus sem dor,
O beijo sem calor, o jogo sem aposta,
O fogo sem arder, o eu sem você...

Sem escrever
Não sei dizer o que preciso, o que é tão claro e tão conciso na palavra!
Como o olhar feliz daquele que nos é tão caro,
Como o suor que escorre daquele que lavra o nosso raro pão,
Como o calar doído daquele coração, em que reparo as batidas:
Silabando as despedidas,
Fraseando as idas,
Palavreando as vidas...

Sem escrever
O mundo perde o colorido, o barco perde o rumo,
A construção perde o seu prumo, o divertido perde a graça,
A massa perde a consistência, e desanda,
A razão não manda, e eu perco a consciência...

Sem escrever
Fico vazia feito sala de cinema, em plena segunda-feira,
Fico tristonha feito a lua, quando dela só se vê metade, já não está inteira,
Fico calada feito menina, que virou mulher na sua vez primeira...

Sem escrever
Quem sou eu?
O que é você?...

domingo, 24 de outubro de 2010

Nada (1º lugar - SMC/VR - 2001)

Nada...
É resposta automática, curta, clara, sem graça
É abrigo, é fuga, esconderijo das verdades
É disfarce, é farsa, é fundo falso de gaveta.
_Não foi nada...
E me esconde na palavra, corta a conversa
E se esconde na palavra, nega o que sente
E nos esconde na palavra, nos camufla de nós mesmos,
Para eu não saber, não descobrir, não falar
Nada.

Eu quero é o Tudo: da sua cabeça, do seu conflito
Eu quero o mito, a dor, o rancor e a tristeza
Eu quero o todo de você! Na correnteza
Dos seus pensamentos mergulhar, e me fazer
O contrário da palavra! Ser toda, exclusivamente sua,
E me embriagar no meu Tudo, que é você!

sábado, 16 de outubro de 2010

És professor

Se és professor?
E o que mais serias?
Se em tanta angústia é que te findam os dias
Se cultura e arte são tuas companhias
Se de alma e caneta jorram tão belas poesias...
O que serias, se não mestre, docente?
Que descortina o saber e desafia a mente
Que ao aluno ensina e lhe sugere: "Tente!"
Que crê no cidadão que há em toda gente...
Como serias outro, se não professor?
Quando das "múmias" inertes lhe incomoda o torpor
Quando da injustiça lhe brota toda a dor
Quando da desilusão ainda lhe sobra amor...
Professor, tu o és. É tua sina e sorte!
Pois lutas pela vida onde entrevê-se a morte
Pois andas na navalha de um fino corte
Pois é cais de mudança, onde a esperança aporte.

Parabéns por seres quem és, professor!

sábado, 2 de outubro de 2010

Minutos

O relógio marca o tempo do meu amor...
Tenho alguns minutos para olhar seu rosto!
Quem dera não ter que falar nada
Só provar seu gosto, sentir na boca o seu sabor...

O relógio marca o tempo do meu amor...
Tenho poucos minutos para ouvir o seu silêncio!
Quem dera não ter que decifrar o que não diz
Só ser feliz, unir na minha a sua cor...

O relógio marca o tempo do meu amor...
Tenho raros minutos para matar minha saudade!
Quem dera não ter motivo pra ir embora
Só fazer, desta hora, a eternidade a seu dispor...

O relógio marca o tempo do meu amor...
Tenho menos que minutos para dizer o que preciso!
Quem dera não ter que suportar a sua ausência
Só viver esta demência e, sem juízo, me queimar no seu ardor...

O relógio marca o tempo do meu amor...
Já não tenho mais minutos para conquistar você!
Quem dera não ter que ouvir o seu adeus
Só adormecer nos braços seus, e me perder de vez no seu calor...

domingo, 26 de setembro de 2010

O amor e a rosa

Como abelha, que transforma em doce mel a pétala suave
Como ave noturna, que arrepia com seu pio, seu agouro
Como ouro, que reluz na pepita, tão bonita, tão cheia de brilho
Como filho, que se apega ao seio e suga o leite, a vida daquela que o conduz.

Como lua, que enche, se renova, cresce e quase morre à míngua
Como língua que, afiada, corta qualquer palavra, qualquer segredo
Como medo, que tira o sossego e inunda a alma de escuro
Como muro, que cerca a gente, prende, esconde a face da realidade.

Como vício, que começa e não acaba, enraíza, se agarra em nossa mente
Como gente, que sucumbe a qualquer dor, até a que causou com a própria mão
Como pão, que sacia, mata a fome, se multiplica no milagre do trigo
Como amigo, que nos dá o braço, o ombro, e enxuga a lágrima que rola.

Como tudo o que existe, e que há de mais perfeito no universo
O meu amor também se pronuncia, em verso e prosa
Como uma rosa, que floresce e desabrocha no jardim que é bem cuidado
O meu amor, se bem amado, permanece inalterado dentro de mim.

domingo, 12 de setembro de 2010

Pra falar de você

Pra falar de você, eu falo de mim mesma... Falo dos lados da moeda, do negativo do retrato Falo do fato de beijar a sua boca e ser sua irmã Falo de acordar pela manhã com seu sorriso em minha noite Falo de riso e de água que escorre pelo rosto, vinda do olhar... Pra falar de você, eu falo do que existe... Falo da fruta bem madura, que eu retiro e devoro com vontade Falo do ar que eu respiro, e tantas vezes ignoro Falo da saudade, que deixa escura a minha alma Falo da palma da mão, que sua, caleja e luta... Pra falar de você, eu falo do que amo... Falo das palavras que eu rimo, com carinho de criança esperta Falo da alegria aberta, que eu levo como um mimo, pra quem possa querer Falo da lembrança do meu eu no seu caminho, atravessando a sua luz Falo de você, que me conduz sem o menor temor Que me seduz com todo o seu calor E que faz jus a tão sincero amor...

terça-feira, 7 de setembro de 2010

A vida pede passagem

E a vida passa...
Tal e qual passageira de primeira (e talvez de última) viagem
Como um bloco, uma escola de samba, ela pede passagem
Pode ser um bilhete de trem, um cartão de metrô,
Ou dinheiro amassado, suado, na mão do trocador
E a vida vai...
Ela vai e navega, se entrega
Tal e qual a mulher que se pinta, se borda, se arruma, se decota
À espera daquele qualquer que, por horas de mero capricho,
Lhe joga, à saída, uma nota
E a vida termina...
E ensina que tudo se foi, já passou, acabou, se apagou
Como vela de uma semana, que no quinto dia já não tem mais luz
Como amor, que não chega na hora marcada e pro sofrimento a gente conduz
Como tudo, que agora é nada
Como dor, que agora é prazer
Como é a certeza que sobra da vida: ela passa, se vai e termina
Depois de brilhar nos olhos de uma menina
Depois de sumir na curva de uma estrada
Depois de voar nas asas do sonho que foi embora
Deixando a saudade calada...

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

The fault was mine 2 (A culpa foi minha - parte 2)

Em momentos difíceis, a poesia adormece
E buscamos consolo em ombros e abraços...
Ao ressurgir o sol, a palavra floresce
E agradeço a Deus pela amizade e seus laços...
Thank you, forever!!!

domingo, 1 de agosto de 2010

Múltiplos

O meu amor
Nosso, seu, não sei,
Aconteceu. À flor da
Pele, a cor da pele,
Acordou o beijo, o desejo. O som
Ecoou pelo espaço, o tom de luz,
De sol maior, clareou aqueles corpos
Nus. Brilhou a estrela de grandeza
Duvidosa, e tão fatal naquele abraço,
Naquele laço apertado! Lado a lado,
Roupa largada, a cama macia
De pele dourada. A água morna
Que bate, entorna a esperança
De prazer, de ter, de fazer
Amor com você. Outra vez,
Em mim, assim...

sábado, 24 de julho de 2010

The fault was mine... (A culpa foi minha...)

Queridos amigos, sei que estou em falta
Por ficar tanto tempo em silêncio e "offline"...
Volto agora, com mais poesia em pauta,
So sorry... The fault was mine...

sábado, 10 de julho de 2010

Para meu sobrinho...

Bênção divina! Foi enviado à Terra
Rosto de anjo, iluminado, encerra
Um sonho especial... Transborda a alegria
No sorriso de cada um, que já prevê
O grande homem que você se tornará um dia!

domingo, 4 de julho de 2010

Meu algoz

Viajante da minha boca
Porto do meu sorriso
Cais do meu corpo, do meu barco
Flecha que retesa o meu arco...
Algoz da minha vida! Corda, piso em falso
E balanço na forca, na força do seu abraço
Apertado! Massagista oriental, me orientando:
Bússola, astrolábio, estrela-guia, Ursa Maior
Me levando no sentido norte-sul,
Azul, anil, meu céu de abril...
Vingança, pela borda do meu prato, fria
Eu a tomo, me satisfaço.
Laço de alçapão, minha armadilha,
Caçador que me seduz e eu, a mariposa, a caça,
Corro até você, para a luz, que me enlaça,
Amarra,
Ata,
Queima,
Mata...

domingo, 27 de junho de 2010

O que somos? (2º lugar - SMC/VR - 2000)

Você é...
Meu fora do sério, meu riso notório
Meu cair da tarde, minha madrugada
Meu retrato velho, minha chama que arde
Meu suado espólio, minha alma cansada.

Eu sou...
Sua amiga ouvinte, seu ombro disponível
Seu beijo mais quente, sua face dura
Sua afronta e acinte, sua mão tão rente
Seu nervo sensível, sua boca madura.

Nós somos...
Nossas muitas horas, nossos desvarios
Nossos sonhos loucos, nossos descaminhos
Nossas próprias escoras, nossos gritos roucos
Nossos mares bravios, nossos redemoinhos...

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Summer Dream

I opened my draw, in a shining morning
And your face I saw, like a bright sun...
When you looked me, with your lips smiling
Oh, so cruel doubt: kiss you or run?

I didn't know your words, I didn't know your voice
But I wanted your body near of my hands
So, a great light and a lover's noise
And we went, together, to distant lands...

domingo, 6 de junho de 2010

Doce saudade (2º lugar - SME/VR - 2002)

Quem disse que a saudade é doce, não conhece o gosto
Salgado das lágrimas que pelo rosto correm, solitárias
Amargo das decepções que enchem a mente, várias
Acre das dores que vão no peito. Párias
São aqueles que tomam por mel este azedume
Que tira o lume dos olhares, que separa os pares,
Que escurece as cores, que adormece os amores...

Quem disse que a saudade é doce, enganou-se!
Ela dói, feito uma ferida aberta, não tem cura
Ela destrói, feito o tempo, vagaroso, na clausura
Ela corrói, feito ácido na pele, e desfigura
O sorriso que dançava no semblante
O corpo do amante, que vibrava
O sonho que, adiante, vislumbrava
A tal felicidade, a todo instante...

Quem disse que a saudade é doce, beba
Do seu próprio veneno uma taça! Só assim
Verá como o mundo torna-se pequeno
E como a vida, sem o outro, perde a graça...

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Revelação (Soneto Alexandrino II)

No começo era vinho, doce e quente:
Embalar meu amor no seu sorriso,
Beber, gota a gota, o mel ardente,
Perder completamente o juízo...

O tempo foi passando, e o que era doce
Se revelou amargo, mero fel.
A dor me perseguia aonde eu fosse,
Rasgando o coração, frágil papel...

Rôta, cambaleei pelo caminho,
Ainda tonta com a verdade dura
Plantada em minha vida como espinho!

Mas, revelar-me a sua face escura,
Me deu a chance de fazer meu ninho
Noutro lugar, de afeição mais pura...

sábado, 29 de maio de 2010

A Pena e o Nanquim - Um soneto alexandrino (2º lugar - SMC/VR / Menção Honrosa em Amora - Portugal)

Mergulho em tua alma, doce tinta escura,
E, com um nanquim de rica essência, te traço.
Na imagem, veo a cor que à tela se mistura:
Da tinta, imortal retrato teu eu faço.

Imito a pena, fina e ágil companheira,
Que desenha a face do objeto de desejo,
Escreve em poesia a afeição primeira,
Registra a emoção daquele último beijo...

Unidos pela arte, a pena e o nanquim
Deixam marcada no papel tua lembrança,
Pedaço de um amor que julgo não ter fim.

Guardo junto a ti, na moldura, a esperança
De um dia o teu sorriso abrir-se para mim
E me embalar, então, nessa ilusão tão mansa!...

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Meia-noite

É quase meia-noite... E tudo o que desejo é o seu abraço
É me perder nesse espaço tão macio que, sem dúvida, era meu
É buscar pelo seu beijo e preencher o meu vazio, sem medo de ser feliz
É provar o mel que eu tanto quis, e no seu mundo mergulhar...

É meia-noite... E sinto sua pele na ponta dos meus dedos
Me livro dos segredos, ouço os seus temores, fico tonta
Me deixo levar pelas lembranças dos amigos, dos amores, dos momentos
Me abandono nesse turbilhão de sentimentos, hoje raros e antigos...

É mais de meia-noite... E o sono vem se encontrar no meu cansaço
Eu durmo em paz, sabendo que o laço foi refeito
Eu sei o quão perfeito é estar, agora, do seu lado
Eu aguardo. Quem faz a hora certa é o coração...

terça-feira, 25 de maio de 2010

Amigo

Amigo é coisa pra levar nos olhos, pra sonhar comigo, pra falar de vida nossa...
Amigo é coisa pra dizer saudade, pra sentir a ida, pra servir de abrigo...
Amigo é coisa pra sair da fossa, pra ouvir "Te ligo!", pra não ter idade...
Amigo é coisa pra buscar bem longe, pra hora dolorida, pra brigar (e por quem eu brigo)...
Amigo é coisa pra contar o amor, pra trazer a sorte, pra caminhar (e eu sigo)...
Amigo é coisa pra sul e pra norte, pra afirmar "Estou contigo!", pra chorar a dor...
Amigo é coisa pra se guardar no peito,
Pra me lembrar quando deito,
Pra saber o que de mim é feito,
Pra gostar de todo e qualquer jeito...

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Morte

Grito, mas já não escutas minha voz...
Não existe mais "nós", e assim vais:
Sem "ais", sem "byes", e fico eu - sem paz...

Peço, mas já não sentes minha dor...
Não existe mais amor, e assim somes:
Sem nomes, sem que, outra vez, me acaricies e me domes...

Choro, mas já não notas meu assombro...
Não existe mais ombro, e assim caminhas:
Sem o que tinhas, sem poder ver as lágrimas minhas...

Morro, mas já não percebes minha ida...
Não existe mais vida, e assim voas:
Sem que em mim doas, sem que eu esqueça tantas coisas boas!...

domingo, 23 de maio de 2010

Cuida da poesia

Cuida da poesia. Na infância
Ser criança é ser cantiga, verso, rima ou prosa.
Estudiosa ou não, criança é talentosa!
Diz, na palavra escrita, a vida: a dor e o riso,
O vinho e o pão, a bola e a boneca, o céu e o chão...
Cuida da poesia. Na escola
A criança passa pro papel sua verdade
E é de responsabilidade de quem lê e corrige
Descortinar o dom, descobrir o artista novo!
Aquele que exige e que ensina a ler
Faz florescer a voz do povo no caderno do menino e da menina...
Cuida da poesia. Não esqueça
Que a frase é bênção, é desabafo em toda a idade.
Fazer poesia é deixar o coração falar, e pela mão
Registrar felicidade e mágoa no branco de uma folha
Pingar, letra por letra, feito bolha de sabão, formando a história
De um mundo mais poeta,
mais sensível, mais irmão.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Seu Legado (2º lugar - SESC/BM - 1997)

Sua língua afiada é que me corta
Seu olhar tão gelado é que me espreita
Sua boca maldita é que me nota
Sua mão caçadora é que me deita
No seu colo é que eu durmo a noite inteira
Na sua pele é que eu suo e me sacio
No seu pêlo é que eu vago, feito em rio
No seu braço é que eu faço minha esteira
Minha voz só responde ao seu chamado
Minha fé só acredita em sua crença
Minha cura só espera a sua doença
Meu poema só resume o seu legado
Nesta casa vive a dor que me consome
Neste verso canta o dom da poesia
Nesta vida vai-se embora a alegria
Nesta estrada foge o vulto do meu homem...

domingo, 9 de maio de 2010

Mãe

Dedicação, do modo mais profundo,
A quem trouxe ao mundo, com sublime amor...
Inspiração para toda a poesia
Luz do meu dia, bálsamo na dor...
Vida de espinhos, rosas e esperança
A cuidar da criança, mesmo quando mulher...

Abraçando-a hoje, sentimentos emersos
Mostro neste "De versos", de tão bons momentos...
Orgulho-me de sua raiz em meu coração
Rogo a Deus pelo seu caminhar, tão feliz...

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Jogo Feito

Pra que apostar tão alto nesse sonho?
O risco existe, não há como fugir ou evitar.
Desilusões, decepções, vão estar sempre presentes
Mas a vontade de ganhar supera a dor.
O medo grita, o "Não!" irrita, o sangue ferve, quente...
Não há prudência nem decência. No amor
O jogo é de azar.
Se sua sorte durou mais do que esperava
A qualquer hora brilha a estrela de outro alguém, noutro lugar.
A decisão fica pendente entre dois lados:
Ou jogo limpo, sou honesta, vou à luta com meus meios
Ou sopro areia, conto as cartas, marco os dados viciados.
Pra ganhá-lo não tenho regras, não passo a vez...
Como cigana, esqueço as leis, junto meus ases,
Roubo você da vida, depois com ela faço as pazes
E comemoro a vitória criminosa e garantida!...

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Ata-me!

Amarrada a ti, provo o teu sabor
E invoco as forças do Alto, para ser
Eternamente unida à tua cor!
Quisera eu te enlaçar, sem perceber...

Valham-me os dedos, tão ágeis e finos,
A enredar-te neste meu abraço...
Teço ao redor dos teus olhos meninos,
Ponto por ponto, um invisível laço!

Usando a corda mais firme do mundo,
Prendo também os teus sonhos aos meus
E com um mar de amor eu te inundo!

Agora, rogo Àquele que é meu Deus:
Ata-me a ti, do modo mais profundo,
Com nós de beijos e carinhos teus!...

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Por que escrever?

Por que escrever?
Para deixar fluir em palavras o sentimento, que é por vezes contido pela boca e pelo coração
Para deixar de esconder o abandono, a loucura, a dor e as fantasias
Para encontrar-me com o meu "eu" do espelho, o meu antagonista, o meu contrário
Para misturar, na ficção, minha realidade e meu silêncio
Para que alguém - ou ninguém - leia, ser meu segredo e minha revelação
Para dizer que, fora de mim mesma, posso ser criadora e criação.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Apesar de Você

Apesar de você, eu sigo em frente
Apesar do corpo, quente, eu sigo
Apesar do fogo, ardente, eu sigo
Apesar do desejo, latente, eu sigo.

Sigo, porque o amigo já não existe
porque o antigo pavor persiste
porque, comigo, "a alegria é triste"...

Apesar de nós, eu caminho sozinha
Levando a angústia, que é toda minha
Levando a saudade do que eu não tinha
Levando de volta a paixão que vinha...

Faltou-me esperança. E, apesar do não,
Ainda ouço meu coração, e no descompasso dele, você dança
Ainda sinto aquela emoção, que me faz voltar a ser criança
Ainda fujo da ilusão, onde a sua mão sempre me alcança!

terça-feira, 27 de abril de 2010

Ode ao Mar de Caymmi

Mar e ar, marear
À cor do ar, acordar
Singrar o mar, sangrar no ar
Me encontrar no sol perdido em gotas de oceano
Que vão brilhar mais uma vez, mais este mês, mais este ano...
Na luz solar que se reflete nesse espelho d'água
Vou mergulhar. Depois virei à tona, coberta de alga,
Com a sensação de ser, apenas por um dia, Iemanjá
Idolatrada na umbanda, rainha santa no folclore popular,
A mãe dos mares, pérolas, contas, colares
E flores, nas oferendas que já vão pro mar...
Esse mar, onde eu irei me banhar, me debater, me perder, me afogar
Esse mar, que se mistura com o ar, que eu respiro
É aquele que vai receber o meu último suspiro
Porque, como o amado e aclamado Caymmi já dizia,
"Morrer no mar é doce", é pura poesia...

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Cantiga de Amigo

Se você ficar comigo
Eu digo
Que o beijo inteiro
Que o cheiro é doce
Que se noite fosse
Eu luzia...

Se você ficar comigo
Eu sigo
Pela rua afora
Pela hora certa
Pela porta aberta
Eu corria...

Se você ficar comigo
Eu ligo
Mil alto-falantes
Mil brilhantes sóis
Mil versos de nós
Eu relia...

Se você ficar comigo
Eu instigo
Seu olhar voraz
Seu jamais ter fim
Seu corpo em mim
Eu queria...

Se você ficar comigo
Eu consigo
Toda a grande sorte
Toda a forte chama
Toda a vida em trama
Eu tecia...

Se você ficar comigo
Meu amigo
No abraço de paz
No mais belo porvir
No seu peito, a sorrir
Eu dormia...

domingo, 25 de abril de 2010

Gente

Tanta gente passou em minha vida...
Gente que se fez amiga, que se fez querida, que se fez pedaço meu
Gente que me disse adeus, que me deu abrigo, que me deu espaço
Gente que trocou abraço, que virou vinho: gostoso e tão antigo...
Tanta gente passou...
Gente que tocou meu rosto, que sofreu minha dor, que povoou meu sonho
Gente que causou calor, que me trouxe desgosto, que só quis o meu bem
Gente que tinha ar risonho, gente que era alguém, que era tudo, e nada ficou sendo
Gente que me deixou tremendo, gente que me incutiu respeito, que descobriu o meu segredo
Gente que me inspirou medo, gente de todo jeito, gente que era gente ou nunca foi...
Agora, só um "Oi!" quando essa gente passa, e já não mais me abraça ou beija
Agora, nem toda essa gente me festeja e me repara, como fez um dia, no passado
Agora, quem não passou, aquela gente que ficou, que plantou semente e floresceu
É metade do meu eu, é quem estará sempre ao meu lado:
Não é gente pequena, é grande gente, é gente que vale a pena...

sábado, 24 de abril de 2010

Ultimatum

Você foi
A última gota do meu vinho
O último lance do meu jogo
O último gesto de carinho
A última centelha do meu fogo...

Você foi
O último apelo de esperança
A última nota da canção
A última foto de lembrança
O último pulsar de um coração...

Você foi
A última vez de intimidade
O último som de alegria
O último vazio de saudade
A última certeza de agonia...

Você é
Tudo o que já foi, e mais um pouco
Tudo o que me deixa louco, sem juízo
Tudo de que eu preciso para viver, em paz
Tudo o que me satisfaz foi, e é, você!

Futuramente (2º lugar - GLAN/VR - 1996)

Futuramente
Quero o rosto dele do meu lado, nas horas primeiras do meu dia
Quero, à noite, deixar a água escorrer do meu corpo, levando no seu rio o meu cansaço
Quero o abraço e o sorriso de quem amo enchendo a minha cama, aquecendo o frio
Quero tudo de que eu preciso: a sua boca, a sua pele, a sua chama...
Futuramente
Quero me deitar olhando a lua por um teto transparente
Quero uma lente cor-de-rosa para que eu veja o mundo novo e colorido
Quero o amor do meu amado, que me sossega feito cura milagrosa
Quero a entrega sem recusa do vencido, por direito, ao vencedor...
Futuramente
Quero, de avião, ver a cidade lá embaixo cheia de luzes pequeninas
Quero as campinas verdes com crianças rolando pelo chão, na flor da sua idade
Quero minha rua repleta de mães e de seus filhos junto ao seio
Quero o meio de fazer feliz quem me rodeia, da forma mais bonita e mais completa...

quinta-feira, 22 de abril de 2010

A Seco

Letras escorrem da minha fronte...
(Será suor em versos?)
Enxugo-me em papel toalha e, submersos,
Ficam meus pensamentos,
Secando à sombra da minha tez grisalha...